Ânsia de Luz |
Quero falar sobre o egoísmo da Arte, em particular da pintura.
Quem lida com a Arte encontra mesmo um mundo complexo e desafiador.
A tela branca, aparentemente tão singela, na verdade é mítica, atraí e muitas vezes nos esgota por completo, é como uma prisão preventiva e temporária.
Já vi artistas sorrindo e chorando parados na frente das suas telas.
Ainda não chorei ao pintar, mas já chorei observando o resultado de um quadro bem terminado. Sorrir é sempre mais fácil e conveniente para alma.
O Artista se isola do mundo durante a execução de sua obra, a tal ponto que acaba se isolando de si mesmo. Pobre de seus amores que não entendem sua lógica , o criticam e quase sempre o abandonam.
A Arte faz emergir a criatividade e a excitação pictórica, contudo suga ao extremo a liberdade das coisas mundanas e materiais.
Parece que o egoísmo da arte não permite aos artistas conhecerem plenamente o lado material da vida e o vil metal, definitivamente parece que não se pode ser abastado.
Que a Arte é espiritual e espiritualizante eu não tenho dúvida, ela mata a carne com tudo que pode, pelo odor da tinta e dos solventes, pelo desgaste físico e mental que deixamos em cada obra pronta.
No fundo ficamos encravado nas obras que produzimos, somos obrigados a ceder nossos os filhotes, os quadros, quando nascem, as vezes ainda nem desmamados.
Usamos secante para acelerar um processo que começa na mente e termina na tela.
Arte é aquela mulher sedutora e bem egoísta, que nos impõe o alto preço da entrega completa, que nos exige lealdade extrema, muitas vezes até a morte.
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